Editorial
Segundo maior item de gasto, depois da Previdência, servidores requerem uma reforma específica
Faz sentido que a lista das reformas essenciais para o país superar a
crise fiscal e sair da armadilha do baixo crescimento traga no topo das
prioridades mudanças estruturais na Previdência. A conjugação de regras
desatualizadas com uma dinâmica demográfica que envelhece a população de
forma veloz gera rombos crescentes nas contas públicas, degradando as
expectativas dos agentes econômicos diante do futuro. O resultado são
baixos investimentos, menor geração de renda e a instalação de um
círculo vicioso de mediocridade no sistema produtivo.
Mas não se deve menosprezar o peso da folha do funcionalismo, o segundo
maior item no Orçamento da União e muito relevante também entre os
demais entes federativos. Um gasto que, da mesma forma, apresenta
aspectos perversos: é engessado por uma legislação que na prática
garante estabilidade plena ao funcionário público e assim contribui para
sua baixa produtividade em geral. O servidor tem, portanto, absoluta
blindagem salarial, além de receber uma remuneração geralmente bem acima
da praticada no setor privado para a mesma função.
Isso, somado a governos populistas que incharam a máquina pública,
resulta no quadro mostrado ontem: o número de servidores aumentou 82% em
20 anos, e o país gasta com seus salários 10,7% do PIB, mais do que
países desenvolvidos como Estados Unidos e Austrália( na faixado 9%) e o
Chile (6,4%), para citar um latino-americano também de renda média. Os
dados são do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Estabilidade no emprego e forte poder político, dentro da máquina
pública, no Legislativo e perante a Justiça, tornam o funcionalismo uma
casta na sociedade brasileira. De 2007 a 2016, o salário médio do
servidor federal subiu de R$ 6,5 mil para 8,1 mil; o do funcionário
estadual, de R$ 3,5 mil para R$ 5 mil, e do municipal passou de R$ 2 mil
para R$ 3 mil. Crescimento de 34% acima da inflação.
Ou seja, um país à parte do Brasil, que, neste período, enfrentou grave
crise econômica, tendo, em 2017, acumulado 14 milhões de desempregados.
Nenhum deles, claro, servidor público.
Os elevados salários, também por força da inflexibilidade de uma
legislação que privilegia o funcionalismo, garantem aposentadorias e
pensões fora da realidade do país. Só servidores contratados a partir de
2013 é que passaram a deixar de se aposentar com o último salário e a
ter direito a reajustes como se fossem funcionários ativos. A
consequência de tudo isso é que a Federação está sendo sufocada pela
Previdência de seu funcionalismo.
O universo do funcionalismo é mais um desafio dentro do trabalho urgente
de ajuste e reforma do Estado. Há uma crucial necessidade de
atualização das regras previdenciárias em geral. Mas também de uma
revisão das carreiras no serviço público, em que os salários iniciais
são muito elevados. É preciso trazer o servidor para a vida real do
país.
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