por Carlos Chagas
Nem tudo começou com José Sarney, porque os generais-presidentes também contemplavam seus grupos de apoio, eventualmente até nomeando políticos, ainda que a prioridade fosse para militares e técnicos. Tancredo Neves perdeu os cabelos que não tinha e exasperou-se ao compor um ministério com representantes das forças político-partidárias que o apoiaram. Só para apaziguar a Bahia, nomeou Antonio Carlos Magalhães, Waldir Pires e Roberto Santos.
Os partidos detinham suas capitanias hereditárias mas não fizeram alarde nem se engalfinharam durante os cinco anos do primeiro governo da Nova República. Fernando Collor elegeu-se contra a classe política, transformou parte de sua equipe numa praia alagoana mas quando formou o maior ministério das últimas décadas, cheio de luminares, não dava mais tempo de salvar o seu mandato. Itamar Franco voltou-se para os partidos, até tentou cooptar o PT com Luiza Erundina, mas deixava claro ser ele quem mandava, até demitindo auxiliares ao primeiro sinal de denúncias de tráfico de influência e corrupção.
Com Fernando Henrique iniciou-se novo capítulo na novela de assalto ao poder pelos partidos. Eles já exigiam ministérios, o presidente regateava, cevava tempo para atender as indicações mas no final cedia. Tinha as funções de importância sob seu controle, apesar do espaço cedido.
Lula abriu a porteira, nomeando ministros que pouco ou nada tinham com as pastas sob sua direção, eram simples representantes de partidos que votavam com ele no Congresso.
Pior ficou com Dilma Rousseff, obrigada a ceder às imposições do Lula e também entregue à sanha das legendas que lhe dão respaldo parlamentar numa equação invertida. São os partidos que ameaçam saltar de banda caso não atendidos de imediato, e conforme sua goelas enormes. Com a meta da reeleição da presidente, desde os pequenos até a dupla PT-PMDB, ainda que educadamente, deixam claro que é aceitar ou aceitar as pressões, diante da alternativa de o segundo mandato ficar em xeque.
Tome-se a recente reunião da cúpula do PMDB, na semana que passou. Liderados pelo jeitoso vice-presidente Michel Temer, os peemedebistas reclamam por dispor de 97 deputados e ministérios de menor importância,em termos de verbas. Agricultura sem a CONAB, Turismo sem a Embratur, Aviação Civil sem aeronaves. Estão de olho no ministério da Integração, em mãos do PROS, que só tem 18 deputados. Gostariam de assumir o ministério das Cidades, com o PP de 45 deputados. E vai por aí a imposição, fantasiada de choradeira.
O absurdo nessa disputa dos partidos por suculentos bifes do Executivo é que ninguém esconde as investidas, como se fosse direito dos partidos destroçar a unidade de comando administrativo da presidente. Entoam todos, até o PT, a oração do “dá ou desce”, intimidando Dilma e obtendo a maior parte de suas pretensões.
Será que a reeleição vale tanto? Se o governo não está posto em frangalhos, é quase isso. Caminha para a desagregação com seu loteamento indecente. Do que menos se cuida é da eficiência do ministério. Há quem julgue que depois da conquista do segundo mandato tudo será diferente. Será?
Transcrito da Tribuna da Internet
Nota: os grifos em vermelho são do blog.
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