sábado, 3 de novembro de 2012

Desnacionalização das nossas empresas e seu círculo vicioso


 
1. Adquirem empresas nacionais trazendo certo percentual de dólares para a compra, “ajudando” com isso nossos “governantes”  fecharem as contas externas.
Detalhe: a parte maior dessa compra no entanto, é financiada pelo BNDES.
2. Lhes é exigido um índice de nacionalização de 65%, índice sobre o produto todo, porém aleatório, “negociável intra-muros”, sem pré-determinação, mesmo que não teria à nível de governo pessoas com capacidade para tanto.
Detalhe: a importação dos 35% restantes do produto, que podem ser apenas meia dúzia de peças do conjunto, que poderiam perfeitamente ser produzidas aqui, essas vem superfaturadas, transferindo com isto antecipadamente todo lucro que eventualmente possa ser auferido, subtraindo dos eventuais sócios brasileiros essa participação, sem contar a sonegação do I.R..
3. Importam mais do que exportam, pois o que exportam, é sub-faturado.
Detalhe: criam novamente déficit nas contas externas.
4. Quando precisam de capital, se socorrem nas matrizes, que buscam dinheiro em bancos no exterior à custo de 2 à 3% a.a. enquanto no Brasil, as empresas nacionais se socorrem à um custo de 3 à 5% a.m..
Detalhe: dólares que vem e que terão que ser devolvidos com juros.
Esse é o círculo vicioso a que estamos sujeitos.

Culpa de quem compra nossas empresas ? Não. O mundo está globalizado e também compramos algumas empresas em outros países, ou, montamos empresas lá, não obstante depois as entregarem de graça para os “cumpañeros”, como se o patrimônio fosse deles, governantes.  
Culpa de quem vende ? Também não, pois se vender for um bom negócio, parabéns; mas via de regra vende para não fechar as portas.
Culpa da falta de visão, de conhecimento, de arrojo, de empreendedorismo dos empresários brasileiros ?
Por que então milhares de empresas nacionais são vendidas e outras tanto vão à falência ?
(Poderia aqui fazer uma relação de empresas de porte, nacionais, que foram vendidas para empresários do exterior nos últimos 36 anos (a débâcle principiou em 1976), e, outra relação de empresas de porte que faliram, pois não conseguiram ser vendidas a tempo. Mas o motivo não é a relação e sim o porquê.)

O principal culpado chama-se governo, que por ser um fim em si mesmo, vive e sobrevive às custas da sociedade. Usam e abusam do dinheiro extorquido, como se deles fosse, ao ponto de não sobrar para investimentos.

Desde que começou se formar o Estado brasileiro, 1808, fomos influenciados pela Corte portuguesa que aqui aportou, na época cercada, isolada e protegida pela Inquisição e com isso mantida intocada nas suas idéias medievais, ou seja, impedida de absorver os novos rumos que a Reforma implementou na Europa.
Não é para menos que a Idade Média ou das trevas tem sua duração determinada justamente pelo período compreendido entre a criação da Igreja Universal (Katólica em grego) Apostólica Romana sob o controle do Imperador Constantino (325 DC) e o rompimento com seus dogmas arcaicos (1517), onde algumas dessas regras previam o ócio das elites. Aliás, a palavra trabalho lhes causava urticária. Esta situação na Corte brasileira perdura até os dias de hoje, piorada.
Piorou, pois nossos jovens numa quantidade cada vez maior, espelhando-se no que parece ser o certo para adquirir fortuna, fama e tranquilidade, só pensam em participar das regalias, seja por concursos públicos, seja via eleições, ou entrando como cabos eleitorais, parentes, amigos ou amantes; de alguma forma se esforçam e almejam se pendurar nas folhas de pagamento do setor público.

Para resolver a questão da industrialização da economia brasileira, na época 200 anos atrasada em relação à Europa, os dois movimentos que ensejaram assumir o governo à força, o primeiro em 1930 com Getúlio Vargas amparado pelos militares e o segundo em 1964 com os militares amparados pelos civis, optaram por chamar a responsabilidade para o Estado, sendo pródigos em criar empresas estatais, principalmente Geisel.
Lamentavelmente, empresas estatais foram e são comprovadamente ineficientes, mas mascaram essa sua marca registrada alegando atendimento social, quando na verdade não conseguem cobrir seus custos nem existir sem que sejam sustentadas anualmente com recursos públicos adicionais, diluídos entre a sociedade, que paga essa conta extra sem saber. De mais a mais, sempre serviram e servem como cabide de emprego para os desocupados da Corte.

1995.  Sob FHC foram “vendidas” as estatais e com o que deveriam ter pago a dívida da Corte,  aliviando a carga das empresas nacionais, conseguiram a proeza de quintuplicar essa mesma dívida, numa demonstração inequívoca de que Estado e nação são dois mundos a parte, esta carregando aquele nas costas. Não é para menos que todos sofrem de dores na coluna.

2012. Dez anos sob a governança e pseudo preocupação dos sindicatos com as empresas e empregos,  e continua a venda e o fechamento das empresas nacionais. Pudera. As sugam de todos os modos, seja pelos impostos, numa participação de “modestos” 38% na produção das mesmas, seja pelos extorsivos juros bancários, altos porque o maior cliente chama-se governo, irresponsável, seja por uma legislação trabalhista errada desde sua origem (1934), quando da implantação do sindicalismo pelego, justamente escolhido por não ter nenhuma autonomia fora das regras da Corte, e complementado por uma Justiça do Trabalho impertinente e defasada, como  sobejamente demonstrado pelo Dr. Roberto Pinho Moreira.

Enquanto as empresas mínguam, os governantes e seus parceiros privilegiados criam uma nova modalidade de empresa, PPP – Parceria Público Privada. Depois das concessões fajutas dos aeroportos, querem viabilizar o trem-bala com essa modalidade de sociedade, onde dilui-se a responsabilidade entre parceiros selecionados sem mais aquela, começando por quem propõe, e o ônus, quase que total (70%), fica para o BNDES, enquanto o bônus, se houver, fica para as partes envolvidas, particularmente.
Também cedido sob a modalidade de concessão, daqui 30 anos nos será devolvido no formato de bagaço.

Em uma obra deste porte, um detalhe demonstra a irresponsabilidade de quem decide:
- Primeiro orçamento = 18 bilhões.
- Segundo orçamento = 33 bilhões.
- Terceiro orçamento = 50 bilhões.
Isto é orçamento ou cartomancia ? Sem contar com os prováveis aditivos, que pela Lei podem alcançar até 25% do total, ou seja, pelo menos mais 12,5 bilhões a se somar.
Custo do km desta locomoção ferroviária de 412 km: a “bagatela” de 151,7 milhões de reais/km.
Detalhe. Não precisam mais ter lucro durante os 30 anos da concessão, pois já foi todo apurado na consecução do projeto, com uma vantagem: não pagarão I.R..

Já passou do prazo de começar a reversão desse perigoso processo de desnacionalização das empresas brasileiras, pois mesmo tendo reservas inesgotáveis de recursos naturais, o que vem equilibrando nossa balança de pagamentos e garantindo novos empréstimos externos, a evolução da tecnologia pode muito bem nos pregar uma peça, e tornar obsoletos alguns desses recursos.
Sem contar que, nossa ignorância em determinar o que servirá ou não no futuro, fará com que os principais recursos naturais do nosso solo e que mais valem, acabem também na mão de empresas estrangeiras, como aliás já vem sendo denunciado por alguns e olimpicamente ignorado pelos responsáveis.

Tem saída para esse impasse ? Tem sim !

A Islândia acaba de dar ao mundo um belo exemplo !

Urge começar o debate de um novo contrato social onde estaria incluído, logicamente, um novo modelo de empresas, premiando igualmente o capital e o trabalho. Apenas não devemos mais esperar que esse debate seja iniciativa das Casas Legislativas, pois se depender delas jamais se fará, pois não lhes interessa mudar e perder as criminosas e por isto inconfessáveis regalias.
E se eventualmente algo for proposto por elas, será apenas mudança de nomes, para que verdadeiramente nada mude. É assim desde 1889, quando substituíram a palavra Monarquia por República e o revezamento no trono não mais se deu entre uma única família. No mais, continuamos sustentando o ócio da Corte, cada vez mais corrompida.





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