O Bolsa-Partido
Sergio Costa Ramos
O parlamentar está diante do armário. Lá dentro, flutuam,
suspensos nas ombreiras dos cabides, ternos de impecável corte. Cada um com um
distintivo diferente.
Ora é do volátil PTB, ora do sobrevivente PP, ora do PQC,
o “Partido Qualquer Coisa”. Às vezes é de algum partido novinho em folha, recém
formado na esquina.
Há partidos que já mudaram de nome várias vezes. O PL
agora é PR (Partido da República) e já perdeu a identidade, pois nem sabe
direito como se chama.
O Demo já foi PFL, já foi PDS e agora está se mudando de
mala e cuia para o “versátil” PSB, cujo dono é o presidenciável Dudu Campos.
De dez em dez minutos
surge um partido novo e os trânsfugas vão mudando de camisa e de cueca –
aquelas com carteira embutida, própria para guardar dólares.
E há ainda os inconspícuos e os inomináveis, como o
Partido dos Peixinhos, os socialistas de todos os matizes, o Prona – sem o
Enéas – o Partido dos Aposentados do Brasil e mais um sem-número de partidinhos
e partidecos, como o PTB do B, o PUM e o PAC – que até parece um partido, mas
não é.
Nem mesmo esses arremedos de partidos – os de verdade e
os de mentirinha – sabem dizer o tamanho de suas próprias bancadas. Elas mudam
no raiar de cada nova aurora, sob a luz negra do fisiologismo.
Se há algo que as ruas ainda precisam mudar é essa
volatilidade partidária, esse infamante troca-troca, que não existe em nenhuma
democracia acreditada do mundo civilizado.
Uma vez eleitos, os parlamentares – com as honrosas
exceções que confirmam a regra – rompem os seus vínculos com os eleitores,
vestem um paletó novo e vão tratar do seu bolso e do seu “negócio”.
Não há mácula maior para o Poder Legislativo do que essa
sórdida volatilidade da “Bolsa Parlamentar”. Pior: a extinção desse comércio não
acontecerá tão cedo, pois caberá aos próprios vendilhões operar a reforma do
templo.
Depois de penosas tentativas, o Congresso aprovou uma lei
que moralizaria a vida partidária. A dita “cláusula-de-barreira” mediaria o
tamanho e a seriedade dos partidos, contabilizando os seus votos em pelo menos
nove Estados, nos quais as agremiações viáveis deveriam somar ao menos 5% dos
votos.
O STF derrubou a cláusula moralizadora, considerando-a
inconstitucional.
Constitucional mesmo é o partido de aluguel que providencia
suas “atas” no café da esquina e depois negocia os segundos de televisão a que
tem direito na lamentável arenga do horário “gratuito”.
(Transcrito do
Diário Catarinense de 18/07/2013.)
Comentário do
blog.
A sátira do articulista no artigo acima é mais do que
procedente, pois é o que ocorre na vida real.
Apenas, o Sérgio Costa Ramos ainda acredita – “Se há algo
que as ruas ainda precisam mudar é essa volatilidade partidária, esse infamante
troca-troca, que não existe em nenhuma democracia acreditada do mundo
civilizado.” – na possibilidade de corrigir-se o sistema baseado em partidos
políticos.
Diria apenas que antigamente eles eram baseados em
ideologias – o que já antagoniza os eleitores de forma permanente – e hoje são
baseados no mais puro fisiologismo, o que os torna inúteis, perniciosos e
perigosos. Não precisamos deles para exercer a plena democracia, principalmente
na escolha de candidatos à candidato à cargos eletivos, selecionados pela sua
qualificação e não impostos pelos donos (capos) dos partidos.
Pesquisa Ibope divulgada - levantamento concluído em
março - pela Transparência Internacional, apura que 81% dos brasileiros
consideram os partidos políticos “corruptos ou muito corruptos”. Isto quer
dizer que quatro de cada cinco pessoas põem em xeque a base de representação
política do país. Isto no Brasil.
À nível internacional, pesquisa em 107 países, 65%
afirmam o mesmo: “são corruptos ou muito corruptos.”
Em entrevista ao “Estadão”, o cientista político,
filósofo e escritor espanhol Manuel Castells, reafirma sua convicção de que o
sistema político apoiado em partidos políticos já deu o que tinha que dar. Está
na hora, diz ele, de pensar um novo sistema, não mais baseado na partidocracia.
Portanto, vamos lá ! Coragem ! Está na hora de encararmos
esta questão de frente. Não se trata mais de debater se partidos políticos
ainda servem para alguma coisa, além de facilitar a manutenção do status, da
ladroeira do dinheiro dos impostos e outras selvagerias que cometem CONTRA a
sociedade que teoricamente representam.
O que temos de
discutir antes da Copa do Mundo do ano que vem, 2014, para então voltarmos
às ruas e exigir um debate nacional à nível de Congresso, é um novo Contrato Social,
onde a democracia seja exercida e representada SEM mais a participação de
partidos políticos para que tenhamos a oportunidade de realmente viver numa
República Democrática e não mais numa Monarquia Republicana.
Só então teremos uma verdadeira Proclamação da República,
125 anos defasada daquele golpe perpetrado por um grupo descontente, que apenas
trocou seis por meia dúzia, e sob cujas regras até hoje somos subjugados e
explorados - sempre em prol dessa minoria - cujo único deus é o Poder e o
dinheiro que ele “permite entrar” em seus bolsos e nas suas contas nos paraísos
fiscais.
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