Marcelo
Madureira
CHICO BUARQUE, MILLÔR FERNANDES E EU
Era
de tarde. Estava eu trabalhando no meu escritório do Casseta & Planeta
quando, subitamente, toca o telefone. Era da Globo News. Millôr Fernandes
acabava de bater as botas, passar desta para melhor, abotoar o paletó de
madeira, ir de encontro ao Criador… Enfim, perguntaram se eu poderia entrar ao
vivo imediatamente e falar um pouco sobre a figura do Millôr.
Não
me fiz de rogado, aceitei. Lamentei a perda do Millôr, não só o brilhante
humorista, mas também o intelectual, o escritor, o tradutor, o dramaturgo, o
artista plástico… a genialidade múltipla e incomparável do Millôr Fernandes.
Mas, sobretudo, sublinhei a sua estatura moral quando, ao contrário de quase
todos, se recusara a requerer a famigerada Bolsa Ditadura. Para o Millôr, a
oposição ao regime militar era uma questão de princípios, não era investimento.
Em seguida, ironizei dizendo que a Globo News só estava me dando notícias tristes.
Pouco antes tinha sido Chico Anysio que “partira desta para a melhor”. Indaguei
então para a mocinha que ancorava a transmissão ao vivo quando é que a Globo
News me daria uma boa notícia, do tipo: morreu Paulo Maluf, morreu Zé Sarney,
Collor de Mello se suicidou, Lula teve um enfarte… Não sei por que fui tirado do ar.
Dia
seguinte, velório do Millôr no Caju.
Estava eu de frente para o esquife, sentado ao lado da Cora Rónai, quando se aproxima uma jovem repórter da Caras. A menina pedia que eu desse uma declaração sobre a perda do insigne humorista “Millôr Ferreira”. Estupefato, tive um ímpeto de levantar e ir até o ataúde para despertar o defunto do Sono Eterno e comentar: Porra, Millôr! Você nem bem entrou na Eternidade e já nem se lembram mais direito do seu nome!!!! Millôr, você é um merda!
Estava eu de frente para o esquife, sentado ao lado da Cora Rónai, quando se aproxima uma jovem repórter da Caras. A menina pedia que eu desse uma declaração sobre a perda do insigne humorista “Millôr Ferreira”. Estupefato, tive um ímpeto de levantar e ir até o ataúde para despertar o defunto do Sono Eterno e comentar: Porra, Millôr! Você nem bem entrou na Eternidade e já nem se lembram mais direito do seu nome!!!! Millôr, você é um merda!
Infelizmente
não cheguei a ser amigo do Millôr. Uma pena. Mas, sempre que estivemos juntos,
tivemos conversas divertidas e respeitosas. Ele gostava do Agamenon, que
escrevo com o Hubert, que, aliás, conviveu muito mais com o Millôr, desde os
tempos d’ O Pasquim, onde realizaram vários trabalhos juntos.
Velório
que segue.
Eis
então que adentra a capela o Ziraldo. Inconformado com o fato de ter que
dividir as atenções do ambiente com o “de cujus”, o maior desenhista de
Caratinga começa a bradar ameaçador: Cadê o Marcelo Madureira? Cadê o Marcelo
Madureira? Eu quero encher ele de porrada!!! Motivo: Ziraldo, artista pobre e
miserável (mais miserável do que pobre), é beneficiário da Bolsa Ditadura.
Consciente de minhas limitações físicas e graças à minha boa formação de
judoca, recolhi-me à minha insignificância. É falta de respeito espancar os
mais velhos.
Pouco
depois fechou-se o caixão e o corpo do Millôr seguiu para a grelha.
Hoje,
no meio dessa barafunda imensa em que se meteu o Brasil, ainda tem esse
episódio lamentável do Chico Buarque. No meio da polêmica, recordam que o
insigne compositor havia cuspido no humorista, no caso o Millôr, porque este
comentara, com muita propriedade, que desconfiava de gente, como o Chico
Buarque, que faz ideologia meio de vida.
Não
se deve cuspir nos outros. É feio, vulgar e sinal evidente de falta de
educação. Assim meus pais me ensinaram.
Mas
insisto: por mais que se queira, Chico Buarque, pela sua obra musical, não é um
merda. Ninguém é um merda. Quer dizer, talvez, quem sabe o Lula seja um merda…
Mas eu jamais cuspirei nele.
E
tenho dito.
VEJA
Nenhum comentário:
Postar um comentário