segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Chega de blefe

Jorge Maranhão

Os governistas estão apostando no recesso ou na recessão, depois do balde de água fria do Supremo Tribunal Federal (STF) paralisando o trâmite do impeachment no Parlamento? Com a deterioração crescente da economia, políticos e magistrados se põem contra a vontade da maioria dos cidadãos, que já se manifestou por pesquisas de opinião e manifestações de rua não aprovar a prática política degenerada dos governantes.

Os comentaristas da grande imprensa elaboram macabras previsões sobre o impasse político vindouro e o país descendo a ladeira na banguela. Mas falta aprofundar o debate mais importante sobre a missão do STF, que pisa no cadafalso da judicialização da política exorbitando de funções de poder moderador sem mandato constitucional para tanto. Em meio ao debate medíocre, surgem propostas de reorganização do Estado como o regime do semiparlamentarismo.
Mas onde estão os estadistas para a defesa de causas acima dos interesses eleitorais dos partidos? Onde as lideranças pela defesa do interesse público se não entre cidadãos atuantes, mas sem visibilidade na mídia? É revoltante o espaço dado às raposas políticas de sempre com o falso argumento do golpe contra o argumento do impeachment previsto na Constituição. Por não passar de um discurso populista e de absoluta desonestidade intelectual de quem mais aposta no Fla-Flu, ao agrado da arquibancada, do que no discernimento da emergente cidadania brasileira.

Golpe protagonizado pela cúpula ilegítima do Parlamento? E o que prolatou o STF não conta? Vão continuar na ladainha irresponsável de insuflar a nação? É mesmo golpe atos processuais exarados de instituições democráticas como a Câmara, a Corte de Contas, o TSE e o próprio STF? Ou se trata de simples marquetagem do “vai que cola”, não o filme besteirol campeão de bilheteria, mas a pornopolítica que domina o noticiário nacional.

Noutro dia, um grande jornal quis saber minha opinião sobre a pauta: a favor ou contra o impeachment. E eu alertei para a cilada: que era a favor do argumento moral e legal do que tratavam as instituições da República. E contra o falso argumento da baixa política governista que reduz tudo ao maniqueísmo de direita versus esquerda, conservadores versus progressistas, coxinhas versus engajados. Pois, se existe debate público sério hoje em dia no Brasil, deve ser aquele que enfrenta esta derrocada geral de valores morais do esquerdismo dominante na política, onde triunfa o maquiavelismo relativista do “fim que justifica os meios” ou o pragmatismo cínico do “é dando que se recebe”. Tudo indica que caminhamos em direção à borrasca que se aproxima. E desta vez não adianta botar panos quentes. Pois, se assim preferem os facínoras, chega de blefe! Os cidadãos que pagam a conta deste circo estão prontos para pagar para ver o embate final entre as bandeiras vermelhas e auriverdes. 

A Voz do Cidadão

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