terça-feira, 24 de março de 2020

O que você definitivamente ainda não entendeu sobre a China

Wagner Hertzog

Sem dúvida nenhuma, alguns dos meus artigos sobre a China – especialmente a relação do atual governo com o dragão asiático – tem despertado algumas polêmicas entre os leitores, especialmente por parte dos eleitores mais ardorosos do presidente e do seu governo. No entanto, basta analisa-los para entender que eles são muito mais de conteúdo ético e moral do que político. Explico. 

Hoje, a China sem dúvida nenhuma é a pior de todas as ditaduras totalitárias, e o governo dirigido pelo PCC (Partido Comunista Chinês) está ativamente envolvido no assassinato da própria população. Pessoas de todas as religiões – cristãos, budistas, muçulmanos – estão sendo arbitrariamente encarcerados, porque o governo ditatorial pretende estabelecer um estado totalitário ateu. Bíblias estão sendo confiscadas, cristãos estão sendo presos, e a ditadura afirmou que pretende reinterpretar a Bíblia de acordo com os princípios do socialismo. 

Membros de uma religião chamada Falun Gong são sequestrados por agentes do estado para serem assassinados – para terem seus órgãos internos extraídos –, com o objetivo de alimentar o tráfico internacional de órgãos humanos. Isso é realizado como política de estado. Mais recentemente, um ativista americano, Steven Mosher, descobriu que o governo está retirando os órgãos com as vítimas ainda vivas. Turcomenos uigures, que são de maioria muçulmana, são mantidos em campos de concentração, onde são sistematicamente torturados e forçados à renunciar as suas crenças, para jurar lealdade absoluta e incondicional ao governo chinês. Atualmente, mais de um milhão deles estão encarcerados. 

Dizer que a China é o novo III Reich é abrandar demais a situação. É muito pior do que isso. A Alemanha nazista, por comparação, seria um governo dos ursinhos carinhosos. 

A China tem a distinção de ser a pior ditadura totalitária que já existiu na história humana. Durante o período maoísta (1949-1976), aproximadamente sessenta milhões de chineses morreram, embora alguns estudiosos afirmem que esta estimativa é bastante modesta, e que os números factuais seriam bem mais elevados. O Grande Salto Adiante – que provocou a Grande Fome da China – e a Revolução Cultural, que foi um festival de atrocidades, execuções e carnificinas, sem dúvida nenhuma foram os piores e mais dramáticos eventos deste período. 

Depois de Mao, vieram Deng Xiaoping, e depois deste, Jiang Zemin, que reintroduziram o capitalismo e afrouxaram um pouco os grilhões tirânicos que asfixiavam e castigavam o povo chinês. Não obstante, desde 2012, a China tem como líder máximo o déspota Xi Jinping, que é descrito por não poucos estudiosos e comentaristas políticos como o novo Mao. Com Xi Jinping no poder, uma nova era de terror totalitário teve início, e agora o povo chinês está experimentando um período renovado de atrocidades, perseguições e violência estatal institucionalizada, com um nível de furor e brutalidade que deixaria os próprios nazistas parecendo um grupinho de adolescentes amadores. 

Por isso é tão deplorável ver o atual governo se envolvendo em negócios com a China, e pior ainda, ver pessoas aplaudindo e comemorando. Onde está a ética? Onde está a moralidade? Princípios morais não podem ser abandonados. Estamos falando de crueldade gratuita cometida contra seres humanos pacíficos. Evidentemente, ninguém vai poder criticar o PT por fazer negócios com ditaduras totalitárias, se estamos fazendo a mesma coisa.  

Seria correto fazer negócios com a Alemanha Nazista? Não, não seria. Da mesma forma, não é correto fazer negócios com a China. Persistir nesse erro é assinar um atestado de condescendência, é afirmar que somos coniventes com um governo totalitário que está ativamente empenhado em assassinar pessoas pacíficas e inocentes, e exterminar a própria população. O que ocorre hoje na China é um morticínio monumental, executado com níveis inenarráveis de brutalidade, como pouquíssimas ditaduras no mundo foram capazes de igualar. 

Jamais vou me isentar de criticar aquilo que está errado, meu humanitarismo não o permitiria. E vou criticar o governo sempre que achar necessário. Se este governo continuar no caminho em que está, irá invariavelmente se igualar ao PT, tornando-se apenas mais um governo tupiniquim parceiro de ditaduras socialistas. Seres humanos vem em primeiro lugar, não a economia, muito menos formalidades diplomáticas ou políticas. Não podemos ignorar o que está acontecendo hoje na China, em nome de um suposto pragmatismo material. A crueldade contra seres humanos é o que o socialismo tem de mais deplorável, e a primeira coisa que o atual governo deveria fazer seria debater estas questões delicadas, e afastar-se impreterivelmente da China, a pior ditadura que o mundo já viu. 


Re-União

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