segunda-feira, 18 de setembro de 2017

China investiu R$ 60 bilhões no Brasil desde 2015

Jornal do Comércio

De cada R$ 10,00 que entraram no País para comprar uma empresa ou um ativo nacional nos últimos 30 meses encerrados em junho, R$ 3,00 vieram da China. O avanço dos chineses sobre o Brasil nesse período chegou a R$ 60 bilhões e, com um fôlego extra nos últimos meses, eles se tornaram os maiores investidores estrangeiros em fusões e aquisições, ultrapassando os americanos.

No ano passado, os chineses aplicaram R$ 23,96 bilhões na compra de ativos no Brasil, quase 80% a mais que os R$ 13,4 bilhões injetados pelos norte-americanos. No primeiro semestre de 2017, a tendência se repetiu: R$ 17,8 bilhões dos orientais e R$ 12,3 bilhões dos ocidentais, segundo dados da TTR. Para executivos de bancos, o movimento chinês em 2017 será tão ou mais intenso que no ano passado. "Nada indica uma diminuição do apetite deles por investimento no Brasil. Eles devem continuar como atores relevantes em 2017 e 2018", afirma Bruno Amaral, sócio do BTG.

"Temos mais consultas (de investidores chineses) neste ano que em 2016", diz o diretor da área de banco de investimentos do Itaú BBA, Roderick Greenlees. O vice-presidente do Santander, Jean Pierre Dupui, conta que, neste ano, o banco está com seis grandes negociações que envolvem chineses, enquanto, em 2016, foram duas. "Devem ter negócios para acontecer nos setores de comida e bebida, commodities e imobiliário", acrescenta. Apesar de a maioria das transações fechadas pelos orientais se concentrar em energia - 97% do volume aportado no primeiro semestre de 2017 -, já há indícios de uma diversificação nos segmentos econômicos.

Infraestrutura, por exemplo, é um dos setores que devem voltar a ganhar espaço. Em 2011, 33% dos recursos envolvidos nas operações foram para essa área, mas, depois, esse número recuou e chegou a 2% no ano passado, segundo a A.T. Kearney. Um exemplo da retomada dos chineses em infraestrutura foi a aquisição de 90% do Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP), anunciada na semana passada pela estatal China Merchants Port Holding (CMPorts), por R$ 2,9 bilhões. "Vemos os investimentos chineses acontecendo em ondas. Primeiro, eles entraram em recursos naturais, depois energia e agora infraestrutura, principalmente portos e aeroportos", diz Greenlees. Segundo o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China, Charles Tang, os chineses pretendem crescer nos setores financeiro, de saneamento e ainda mais no energético.

"Temos uma empresa que nos pediu para ver a possibilidade de o governo fazer um leilão de energia a partir de lixo." Uma fabricante de cabos para transmissão de energia também analisa o País, diz Tang.

Nova política de Xi Jinping para desestimular investimentos no exterior não deve afetar o País. Diante do enorme fluxo de capital deixando a China rumo a outros países, o governo chinês divulgou, em agosto, novas diretrizes que desestimulam investimento no exterior. A medida, entretanto, não deverá causar uma inversão no fluxo de recursos para o Brasil - aportes em setores como infraestrutura e energia continuarão sendo estimulados.

O governo de Xi Jinping já havia anunciado, no final de 2016, que não incentivaria mais investimentos em alguns segmentos no exterior, o que resultou em uma queda de 44%, para US$ 57,2 bilhões, no volume aportado globalmente pelas empresas do país nos sete primeiros meses de 2017, excluindo o setor financeiro. Em agosto, o governo especificou que serão desestimulados os investimentos nas áreas imobiliária, hoteleira, cinematográfica, de entretenimento e em equipes esportivas.

Nos últimos anos, os chineses compraram participações em empresas como o Cirque du Soleil, as redes hoteleiras Hilton e Club Med, e os times de futebol Atlético de Madrid, Inter de Milão e Milan. No Brasil, quase não foram aplicados recursos nesses segmentos, e um indicativo de que os investimentos continuam são as transações de fusões e aquisições realizadas no primeiro semestre de 2017 no País: o volume de capital envolvido nelas representa 74% do total do ano passado. "O que acontece agora é que o governo chinês quer centralizar os investimento em áreas que considera estratégicas. No Brasil, os aportes tradicionalmente já são nesses setores. O fluxo (de recursos) deve continuar em energia e óleo e gás, por exemplo", diz Alessandro Zema, responsável pela área de banco de investimento do Morgan Stanley. O presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China, Charles Tang, reforça que os chineses continuarão no País. "Para infraestrutura não tem restrição (do governo)", diz.

"O Brasil é um importante parceiro, porque fornece produtos estratégicos, como minérios e alimentos, para a China garantir seu crescimento sustentável." Uma diversificação maior do perfil das empresas adquiridas pelos orientais, como começava a aparecer, porém, pode acabar não ocorrendo por aqui. Pouco mais de um mês antes de o governo chinês anunciar as novas diretrizes, a chinesa Fosun, com forte atuação nos setores financeiro e de entretenimento, havia comprado seu primeiro empreendimento imobiliário no Brasil - uma torre corporativa em São Paulo.

Governo chinês altera medidas extraordinárias de câmbio após valorização recente do yuan A China está começando a desfazer algumas medidas extraordinárias de câmbio, depois que a recente valorização do yuan começou a ter um impacto sobre os exportadores chineses. A partir de hoje, o Banco do Povo da China (PBoC) eliminará uma regra que existe há dois anos e tornou mais caro para os traders apostarem que o yuan se desvalorizará, de acordo com um aviso do Banco Central enviado aos bancos comerciais na sexta-feira. A mudança tornará mais barato para empresas e investidores comprarem dólares ao venderem o yuan e, assim, ajudará a controlar a alta da moeda chinesa nas últimas semanas, disseram traders e analistas.

A iniciativa "vai afastar os riscos macrofinanceiros", disse o aviso do Banco Central. O PBoC também retirou a exigência de reserva para bancos estrangeiros em depósitos em yuan. Isso deve liberar mais recursos em yuans para o que é conhecido como o mercado de yuan offshore em Hong Kong, o que deve tornar mais fácil para os investidores estrangeiros apostarem contra o yuan. A exigência havia sido promulgada em janeiro de 2016. Ao desmantelar certos controles, Pequim está mudando de curso após um esforço iniciado há dois anos para evitar que o yuan se enfraquecesse muito rapidamente e para manter a confiança na segunda maior economia do mundo. Para isso, o governo submeteu os investimentos no exterior a pesado escrutínio, fez com que apostar na queda do yuan ficasse mais caro para os traders e queimou US$ 1 trilhão em reservas cambiais nos últimos anos. Mas o yuan começou a subir, dando nova dor de cabeça para o governo. Até agora, neste ano, o yuan mais que recuperou a queda de 6,6% em relação ao dólar no ano passado. Só na semana passada, subiu mais de 1,8% - o maior avanço semanal em quase 12 anos.

Jornal do Comércio
Porto Alegre

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