segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Crise política e perenização do subdesenvolvimento

Gilda de Castro

O Brasil é o quinto país em população e em extensão territorial. Mesmo assim, continua subdesenvolvido, porque crises políticas afetam a economia, desde 1822, gerando insegurança em investidores, inviabilizando a modernização tecnológica e condicionando projetos públicos aos humores de chefes paroquiais, que sempre quiseram manter seu eleitorado submisso. Chegamos, então, ao século XXI com índices socioeconômicos à beira da iniquidade, distanciando-nos cada vez mais de países que vêm propiciando boas condições de vida a seus habitantes.

Os desarranjos políticos são tantos que vivemos sob a égide da sétima Constituição, promulgada em 1988. Isso escancara a instabilidade institucional, que permite acomodação de lideranças nocivas a novos arranjos na administração pública, assegura privilégios a muitas autoridades, viabiliza imperativos do Poder Executivo e afasta adversários com prestígio popular. Assim, o país não conheceu duas décadas seguidas de prosperidade. Houve sempre grupos antagônicos buscando o controle do Estado, sem apresentar um projeto integrado para a nação e sem compromisso com a governabilidade. Pelo contrário, é possível identificar sabotagens a propostas que contrariavam interesses de alguns ou iriam conferir visibilidade a concorrentes indesejáveis.

Continuamos, então, com alto índice de analfabetismo, relações arcaicas de trabalho, mão de obra desqualificada, dependência tecnológica, péssimas condições sanitárias, insuportável desequilíbrio regional e vergonhosa desigualdade social. Os desacertos entre liberais e conservadores do Império estão reproduzidos hoje em “golpistas” e remanescentes do petismo, em meio a acusações de corrupção em todas as facções e desconfiança generalizada de cidadãos exauridos pelos tributos para financiar a vida nababesca de políticos e empresários aliados nos negócios com o Estado.

Se, em passado recente, sofremos os solavancos da ditadura militar e da hiperinflação, fomos premiados com a conquista do Centro-Oeste, o Plano Real e a modernização das telecomunicações. Houve momentos de otimismo, porque percorreríamos logo o caminho para a prosperidade. Os inimigos estavam, entretanto, prontos para sabotar o governo do momento, como a campanha petista contra o plano de estabilização econômica e o esforço da mídia para pespegar no presidente Itamar Franco rótulos depreciativos que minassem sua autoridade e seu prestígio ascendente junto à população.

Vivemos agora a pior crise econômica, e, mesmo assim, muitos grupos contestam a posse de Michel Temer e querem eleição direta, demonstrando que não respeitam a Constituição vigente. Preferem o casuísmo que não existe em Estado democrático de direito, porque a legislação deve primar pela objetividade que está acima de problemas ocasionais. Ou seja, esses segmentos apostam em soluções improvisadas, indicando que continuamos agindo como no século XIX e pouco interessados no futuro do país.


Jornal O Tempo

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