Miguel Lucena
“Livre-se das regras, e a discórdia violenta virá em seguida”, alerta o ensaísta Theodore Darlrymple na obra Nossa Cultura... Ou o que restou dela. É o que se assiste na sociedade brasileira nos dias atuais.
Os dirigentes descumprem as leis, afanam os recursos públicos, desviam a merenda escolar, as vagas de UTI, os remédios e os equipamentos médicos do Sistema Único de Saúde, enquanto a burocracia e as corporações repetem o mesmo mantra de mais e mais verbas como a solução para o setor.
Os sindicatos, de defensores dos trabalhadores, passaram a representar os interesses de poucos contra a maioria, principalmente no serviço público, e o tal poder de compra, tão reivindicado, nem em sonho passa perto da população, a razão de ser de todo o aparato montado pelo Estado.
Quando o servidor está insatisfeito com uma lotação, comparece ao serviço médico, diz que tem sonhado com as dívidas e entra de licença, sem que seja possível questionar o alegado sofrimento.
Agora, os policiais militares entraram em greve, mesmo contra a Constituição Federal, e permitiram que criminosos sanguinários transformassem as ruas de Vitória, capital do Espírito Santo, em praças de guerra. Os comandantes entregaram os cargos e deixaram a corporação à deriva.
Sem desmerecer a justeza das reivindicações, a faca dos policiais foi colocada no pescoço não do governante, mas da população, que mais uma vez pagou o ingresso e não teve direito ao melhor da festa.
O indivíduo, de livre consciência e vontade, ataca, estupra, rouba ou mata e não recebe a pena justa, mas um arremedo de reprimenda, e logo volta ao convívio social para repetir ação delituosa, cuja responsabilidade é debitada à sociedade ou ao sistema. É como se dissessem às pessoas: aguentem! E cada um dá um jeito para seguir sobrevivendo.
Efetivamente, vivemos uma época em que a ordem é quebrar as regras, começando por muitos tabus, como o incesto.
Se abrirmos mão das regras, as comportas do mal, que é mais ligeiro que a bem, vão inundar o nosso mundo.
Miguel Lucena
Delegado
da PCDF e jornalista
Diário do Poder
Diário do Poder
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