sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Após primeiro mês de Trump, o que mudou para Rússia?

Aleksêi Timofeitchev

Nesta segunda-feira (20) completou um mês desde que Donald Trump tomou posse como presidente dos Estados Unidos. Até agora, o novo líder não assumiu qualquer medida para alterar a política de Barack Obama em relação à Rússia, e não há previsão de as sanções econômicas serem suspensas. A Gazeta Russa faz um balanço desses primeiros dias de governo Trump e responde a seis questões sobre o futuro das relações bilaterais.

1. Houve contato entre Pútin e Trump? Quando eles se encontrarão pessoalmente? 

Os presidentes da Rússia, Vladímir Pútin, e dos EUA, Donald Trump, falaram ao telefone uma vez, em 28 de janeiro, por cerca de 45 minutos. Em coletiva à imprensa na última quinta-feira (16), Trump disse que a conversa foi “muito bem”.

O Kremlin foi menos emotivo em sua avaliação e informou que a conversa havia sido realizada de “maneira positiva e profissional”. Sabe-se também que os dois líderes discutiram os principais problemas mundiais: da crise na Ucrânia ao programa de mísseis da Coreia do Norte. Também foi levantada a questão de uma “verdadeira coordenação” entre os EUA e a Rússia para derrotar o Estado Islâmico na Síria.

Pútin e Trump encarregaram suas equipes de organizar uma data e um lugar para a realização de um encontro presencial. No último 13, porém, o porta-voz do Kremlin, Dmítri Peskov, disse que os dois certamente se encontrarão durante a Cúpula do G20, na Alemanha, em julho. “Por enquanto não há informações sobre a possibilidade de uma reunião antes disso”, declarou Peskov.

2. O que acontecerá com as sanções antirrussas?
Ainda não há detalhes sobre o que os dois líderes chamaram de “restabelecimento das relações comerciais e econômicas” durante a conversa. No entanto, isso não pode ser feito sem que as sanções contra Moscou sejam suspensas.

O único passo construtivo até agora partiu do Departamento do Tesouro dos EUA, que atenuou as sanções contra o FSB (Serviço Federal de Segurança da Rússia, órgão que substituiu a KGB). Segundo documento assinado no início do mês, todas as transações e contatos de empresas norte-americanas com o FSB, que haviam sido proibidas por Obama em abril de 2015, passaram a ser liberadas.

Mais cedo, Trump vinculara o fim das medidas à possibilidade de Moscou assinar um acordo para a redução adicional de arsenais nucleares. A proposta, no entanto, não tem perspectivas de vingar.

3. Trump mudou seu posicionamento em relação à Crimeia?
Trump e sua equipe parecem manter posicionamentos distintos sobre esta questão. Ainda durante a campanha eleitoral, o presidente declarou que a votação na Crimeia (para que a península fosse reintegrada à Rússia) representava a escolha legítima dos locais, e que estava claro que eles preferiam fazer parte da Rússia a permanecer no território ucraniano. Além disso, Trump destacou que qualquer tentativa de devolver a Crimeia à Ucrânia poderia resultar na Terceira Guerra Mundial.

Há poucos dias, no entanto, a administração dos Estados Unidos publicou uma declaração completamente diferente a respeito da Crimeia. O secretário de Imprensa da Casa Branca, Sean Spicer, disse que o presidente “está esperando que a Rússia ajude a abrandar a situação na Ucrânia e devolva a Crimeia”.

Em sua conta no Twitter, Trump também disse que “a Crimeia foi TOMADA pela Rússia durante a administração Obama. Obama foi muito mole com a Rússia?”. Esta foi sua primeira declaração pública sobre a questão desde que se tornou presidente, e acredita-se que o tuíte esteja mais relacionado com Obama e com as acusações de conexão entre Trump e Moscou do que com a questão crimeana.

4. E em relação à Otan, Trump assumiu uma nova atitude?
A nova administração também mudou sua atitude em relação à Otan. Em entrevista às revistas alemã “Bild” e britânica “Times”, em 16 de janeiro, Trump se referiu à Aliança como uma organização “obsoleta” e reiterou sua opinião de que a Otan possui diversos problemas. Ainda assim, acrescentou que a parceria é “muito importante”.

Durante sua campanha presidencial, Trump lançou dúvidas sobre o Artigo 5 da Otan, que versa sobre a necessidade de proteger coletivamente um membro da Aliança no caso de ataque. Segundo o presidente americano, o compromisso dos EUA pode ser revisto se os países-membros não pagarem uma parcela justa pelos custos da Aliança.

Paralelamente, em reunião com ministros de Defesa da Otan em Bruxelas, no último dia 15, o chefe do Pentágono, James Mattis, disse que “a Aliança continua a ser um alicerce fundamental para os EUA e para toda a comunidade transatlântica”.

Reverberando o posicionamento de Trump, porém, Mattis destacou a necessidade de os aliados ofereceram maior contribuição para cobrir os custos da Otan. Já em relação à Rússia, o chefe do Pentágono não ecoou a retórica reconciliadora de Trump.

5. Haverá cooperação entre os EUA e a Rússia na Síria?
Apesar de Pútin e Trump terem discutido a necessidade de uma luta conjunta contra os terroristas islâmicos na Síria, o novo chefe do Pentágono exclui qualquer cooperação militar com a Rússia. “Não estamos em posição de colaborar em nível militar, mas nossos líderes políticos irão se empenhar e tentar buscar um denominador comum ou um caminho a seguir para que a Rússia, cumprindo com seu compromisso, possa voltar algum tipo de parceria aqui na Otan”, disse Mattis em Bruxelas.

Em 22 de janeiro, o Ministério da Defesa russo anunciou que militares de ambos os países haviam começado a trocar informações sobre a Síria, incluindo coordenadas de alvos do Estado Islâmico. No dia seguinte, porém, Washington negou a notícia.

Na última quinta-feira (16), o Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas da Rússia, Valéri Guerasimov, e o chefe do Estado-Maior dos Estados Unidos, Joseph Dundorf, se reuniram na capital do Azerbaijão, Baku. Foi a primeira reunião de alto escalão desde 2014, quando as tensões acerca da Ucrânia começaram a abalar as relações. Embora os dois generais tenham provavelmente debatido sobre a Síria, ainda não há informações oficiais sobre os possíveis resultados das negociações.

6. O que se sabe sobre os contatos do ex-assessor de Segurança Nacional do presidente dos EUA, Michael Flynn, com Moscou (que lhe custaram seu cargo)?

De acordo com a Casa Branca, o ex-assessor de Segurança Nacional de Trump, Michael Flynn, renunciou após ter mentido para o vice-presidente americano, Mike Pence, sobre as conversas mantidas com o embaixador russo Serguêi Kisliak.

Os EUA estão investigando agora se Flynn prometeu ao diplomata russo ajudar na revogação das sanções. Ao anunciar sua demissão, Flynn negou o fato, e, em uma entrevista posterior, afirmou que não havia “cruzado quaisquer fronteiras”.

Segundo um colunista da Bloomberg, que cita um funcionário da Casa Branca, não havia nada impróprio ou ilegal sobre as negociações.

Trump chegou a declarar que, embora Flynn não tivesse informado o vice-presidente sobre suas discussões, seu assessor “estava fazendo seu trabalho” ao conduzir as negociações. O presidente americano negou que a renúncia de Flynn esteja ligada a qualquer tentativa de bastidores de estabelecer acordos com Moscou e expressou descontentamento com os vazamentos ilegais que revelam negociações confidenciais do governo. Trump enfatizou, mais uma vez, que não possui nenhuma ligação com a Rússia, embora deseje melhorar as relações com Moscou.

Gazeta Russa/Brasil Soberano e Livre

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