por
Paulo Rubem Santiago
No
memorável documentário O
longo amanhecer,
de José Mariani, professor da Escola de Cinema da PUC-RJ, o mestre
Celso Furtado, já bastante debilitado, responde ao diretor do filme,
quando perguntado quem manda no país: “É essa taxa de juros de
fantasia”. Recentemente, a partir de sua tese de doutorado, o
cientista social Ricardo K. Iwata publicou “Ordem mundial e as
agências de rating:
o Brasil no contexto mundial de 1996 a 2010”, lançado pela Editora
Senac.
Na
obra, o autor disseca de forma didática as transformações da
economia mundial nos últimos 40 anos, a passagem da supremacia do
capital da esfera produtiva para a área financeira, destaca os
agentes fundamentais desse processo, a consolidação das agências e
seu papel doutrinário e quase ditatorial sobre as opções
econômicas dos países que não estavam nos centros de decisões e
origem dos grandes fluxos de capital mundo afora no período. Iwata
transcreve depoimentos de diretores das agências nos jornais de
circulação nacional, nos quais são ditadas regras e decisões que
nossos governantes deveriam adotar para garantir melhores notas e,
com isso, terem assegurados os mágicos investimentos estrangeiros.
Nessa
linha, destaco outra obra: “Economia, dinheiro e poder político”,
de Gerson Lima, editado pela IBPEX, de Curitiba. O autor, doutor em
economia pela USP e ex-professor da UFPR, com rigoroso cuidado
didático, analisa as questões macroeconômicas, nos capítulos
fiscal, monetário e cambial, revelando, de modo preciso, as
artimanhas engendradas quando da aprovação da Lei de
Responsabilidade Fiscal (LRF),
em 2000, considerada a linha de superação do vale tudo fiscal,
administrativo e contábil, marca de anos e anos nas contas da União,
estados e municípios.
Da
análise de Lima percebe-se que o DNA da lei não é, exatamente, um
sinal de qualidade para as contas públicas, mas sim a submissão de
toda a gestão fiscal, da política de investimentos e da condução
monetária do país a um único objetivo: consolidar, por meio de
vários de seus artigos, a tese de que inflação se combate com
juros altos (daí a supremacia desse mecanismo), tornando as despesas
disso decorrentes soberanas e sem limite frente às demais
necessidades e possibilidades de gastos públicos, sejam eles sociais
ou de investimentos.
Direto,
o autor denuncia a transformação de uma hipótese do campo
monetário (inflação se combate com juros altos), controversa,
inclusive, nos meios acadêmicos, em norma de lei, com mais dívida
pública sempre que isso ocorre. Lembra que mesmo assim a LRF não
foi cumprida quando determina caber a União submeter ao Congresso
proposta para que se estabeleça o limite da dívida mobiliária
federal. O autor de “Economia, dinheiro e poder político”
analisa, ainda, o reinado do investimento estrangeiro e suas
conseqüências no câmbio, nas contas de capital e no balanço de
transações, defendendo cautela quando à sua livre circulação,
que desestimula a poupança interna, para que nos protejamos de sua
obstinação lucrativa, na renda fixa, gerando pressão de juros e
baixo investimento na produção.
Furtado,
Iwata, Lima e tantos outros revelam o nó que o país tem a obrigação
de desatar a partir de 2015. A supremacia dos juros é uma ditadura
que torna mais ricos os que já detém maior parcela de riquezas no
país e no mundo.
Comentário do blog:
E por que não
conseguiram desatar esse nó até hoje ? Porque nossa Corte,
Monarquia Republicana, não pode viver sem MUITO dinheiro para suas
orgias, fausto, “multiuso” do dinheiro público, não importando
de onde venham os recursos, se dos impostos ou dos investidores
nacionais ou estrangeiros e sendo destes, requerem lucros garantidos.
Não será com a
mudança da Lei de Responsabilidade Fiscal que iremos mudar o quadro
de eterna dependência. Para início de conversa, nossos
“governantes” não respeitam lei alguma, estão acima delas e
disto já deram provas.
Essa história que os
governantes nos contam de que aumentam os juros para conter a
inflação está mal contada. A taxa básica de juros, atualmente,
acompanha a inflação em curso mais a remuneração do capital. Se
não aumentarem a Selic em função do aumento da inflação,
o pessoal retira sua grana e vai aplicá-la em outros países onde
inclusive recebem menos, porém com menor risco de calote, do qual
somos pertinazes. Que o diga a PEC dos Precatórios, também
conhecida como a PEC do Calote.
A falta de confiança
na seriedade do governo brasileiro tem sido o calcanhar de Aquiles
dessa questão dos juros. No entanto, dos males o menor. Passaram a
acreditar um pouco mais no Brasil depois que tiveram um de seus
empregados, Henrique Meirelles, à frente do Banco Central e que esse
colocou ordem na casa, pois se o presidente Lulla agora no seu
terceiro mandato, apenas exercido pela sua ventríloqua, tivesse
colocado um dos “aloprados” do PT desde o início, estaríamos em
situação muito difícil. Lulla não teria sido reeleito da primeira
vez e nem seria mais candidato. E não gosto nem de pensar sobre as
dificuldades que teríamos enfrentado.
Para mudarmos nossa
situação de eternos devedores e estancar uma dívida que cresce de
forma exponencial, só existe um caminho: precisamos procurar nossa
Independência financeira – e é possível sim - e proclamar
finalmente uma Republica Democrática, esquecendo das farsas que
foram 1822 e 1889.
Ou paramos de sustentar
uma monarquia disfarçada de república, à cada reinado mais
desavergonhada, ou continuaremos refém da Oligarquia Financeira
Internacional. Para eles, como está, está ótimo. Foi assim
que Rothshild fez sua fortuna, às custas de governos monárquicos,
devassos e irresponsáveis, onde qualquer semelhança com nossa
eterna situação não é mera coincidência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário