domingo, 5 de abril de 2020

Complicado. A situação dos empresários argentinos em tempos de quarentena

Silvia Naischtat

A pandemia mudou as nossas vidas. Neste mês pagamos os salários, mas se esta situação continuar, não sei qual será o futuro, disse um deles.
O empresário argentino Daniel Saramaga, 64 anos, já vinha sentindo a diminuição da demanda em sua empresa de pisos de madeira Patagonia Flooring, fundada pelo pai. Mas, agora, na quarentena obrigatória, ele diz que sabe o que é zero absoluto em termos de renda, com seus 60 pontos de venda fechados, 300 salários para pagar e cerca de 500 famílias que dependem de suas atividades em serrarias nas províncias de Salta, Formosa e Chaco.

Daniel Saramaga afirma ser austero, que sua empresa é saudável e que está em dia com os impostos. Ele conversou com o gerente do banco, animado com os empréstimos anunciados pelo governo no Diário Oficial.
Mas teve uma decepção. "Não temos instruções", respondeu o gerente.

A pandemia mudou as nossas vidas. Neste mês pagamos os salários, mas se esta situação continuar, não sei qual será o futuro”, disse Saramaga ao Clarín.

Muitos empresários concordam com várias projeções relativas ao colapso da atividade na Argentina, seguindo os dados alarmantes sobre a recessão que o mundo está enfrentando, e por isso se impuseram como política evitar novas tensões com o governo.

A União Industrial Argentina (UIA) montou um comitê de crise com diálogo fluido com o ministro de Desenvolvimento Produtivo, Matías Kulfas, o ministro do Trabalho, Claudio Moroni, e com o presidente do Banco Central, Miguel Pesce.

Segundo o presidente da UIA, Miguel Acevedo, o Decreto de Necessidade e Urgência (equivalente a uma Medida Provisória) divulgado na terça-feira (31) com medidas de ajuda e a proibição de demissões e suspensões (por 60 dias) está incompleto. "É preciso de mais liquidez em um cenário em que 80% do aparato produtivo não está faturando e tem que pagar salários e outros custos fixos".

O presidente da Coordenadora das Indústrias de Produtos Alimentícios (Copal), Daniel Funes de Rioja, diz que nesse setor, considerado essencial, quase 40% dos funcionários estão de licença por motivos de idade, saúde ou por serem pais de crianças em idade escolar. Ele afirma que os protocolos operacionais são tão rigorosos que nenhum caso de novo coronavírus foi detectado nas fábricas. E ressalta o nível de fornecimento e a operação de logística para atender 270.000 pontos de vendas.

No entanto, Funes de Rioja lamenta que o governo argentino tenha retirado do decreto a vantagem prometida de isentar de encargos os empregadores dos funcionários que estão de licença. Um dado: a indústria alimentícia, considerada essencial, está detectando o surgimento de um tipo de consumidor focado em produtos mais básicos, como farinha, arroz, macarrão, erva-mate, deixando de lado outros itens.

"Demitir? Não preciso de uma lei que proíba, esse é o último recurso. Eles precisam nos acariciar mais em vez de nos atacar. Pagamos impostos e criamos empregos. Vamos precisar de créditos, mas com taxa zero, para enfrentar a emergência. Vai ser difícil rearmar a rede de PMEs, há setores como o de turismo que vão continuar afetados. O Estado tem que estar à altura das circunstâncias", disse Federico Pucciariello, produtor de biocombustíveis.

Outros empresários acreditam que o financiamento pode ser resolvido em questão de dias, pois o decreto inclui um fundo de garantia. O presidente da associação Comercios Activos Buenos Aires, Arturo Stábile, acha que esse fundo ajudará em uma operação que autoriza contratos digitais. "As PMEs que estão registradas e operam com bancos poderão ter acesso". Mas 40% ficarão de fora. "Se receberem ajuda, as PMEs não vão demitir", diz ele.

"As medidas são boas, o que falta é a automatização dos créditos", diz José Urtubey, da UIA. Na sua opinião, o Banco Central da República Argentina (BCRA) deveria permitir um financiamento automático nesta pandemia. "É preciso sair das receitas tradicionais e ver o que o Federal Reserve dos EUA está fazendo, com seus enormes pacotes de ajuda.” Para o presidente do Consorcio de Exportadores de Carnes Argentinas (ABC), Mario Ravettino, a proibição de demitir é correta enquanto a quarentena durar.

Enquanto isso, no interior do país, observa-se um grande fluxo de caminhões para as fábricas agroindustriais e os terminais portuários, mais do que nos dois anos anteriores. "A colheita começou e isso é uma boa notícia", dizem na Câmara da Indústria Azeiteira, ressaltando que as entregas estão se normalizando em todos os portos e deixaram de ter problemas com os sindicatos. "Os tempos dos navios e das vendas da Argentina estão funcionando normalmente para todos os grãos, farelo de soja, óleos e biodiesel", informaram.


El Clarín em Portugues

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