quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Onde foram parar os “#ForaCunha”?

Hiago Rebello

Faz algumas semanas que despontou uma grande onda, que avassalava os movimentos esquerdistas da mesma forma que as universidades, de pessoas que berravam “FORA CUNHA!” nas ruas, nas salas de aula, entre outros lugares; o movimento, se é que podemos chamar de movimento, é reativo ao imensamente maior e mais popular “Fora

Dilma!”, além de ser uma imitação débil, claro.
Contudo, entre todos os gritos, xingamentos e acusações – muitos deles justas, o que não ajuda a situação da esquerda –, que pareciam ser intermináveis, havia uma obstinação, quase que obsessiva, aparente por “Justiça”; afinal, se a direita queria tirar a Dilma e o PT do poder por conta da corrupção – os tolos não descobriram, até hoje, que a corrupção é o menor dos problemas do PT – existente no partido, nada mais justo que retirar, também, o presidente da Câmara dos Deputados pelo mesmo problema, não?

Após a Suíça afirmar que Cunha tinha contas aparentemente ilícitas no país, toda a esquerda, seja a política, midiática, universitária ou não, caiu em cima do presidente da Câmara; mesmo a “oposição”, como o PSDB, foi tentar abocanhar o pescoço de Cunha, e, algumas vezes, pareceu que a saída de Eduardo Cunha seria algo certo de acontecer, mas os abutres que tentavam abater a presa supostamente enfraquecida deram de cara com alguém com todas as condições de se defender, assim como atacar seus algozes.

O que a esquerda não contava é que o atual regime de governo, a Cleptocracia, criado pelos mesmos abutres, sustentou a defesa e o contra-ataque de Cunha. A própria criação – que muito se deve ao PT – ameaça seus criadores, que subverteram tanto o regime democrático que seria errôneo continuar chamando nosso regime republicano como um que propende e se cimenta na democracia. O Kratos não está mais no Demos, mas sim no Kléptein, ou seja: com a mudança de local do poder real, o jogo político invariavelmente irá mudar.

Cunha obteve, então, um tabuleiro perfeito para fazer suas apostas e ações políticas contra aqueles que queriam derrubá-lo. Como o poder está embasado, real e fundamentalmente, na sujeira, é no sujo que existe a grande chance para ele escapar das consequências da própria imundície. Os cleptocrátas não possuem honra, senso de belo, bom e moral, mas apenas uma miríade de jogos interesseiros variados, e com o tabuleiro, as peças e as oportunidades, Cunha montou sua estratégia superior.

Ao invés de lançar de vez, como seria o mais racional e justo a se fazer, o impeachment da presidente, Cunha preferiu esperar o terreno ideal. Com isso ele traiu o MBL, além de todos aqueles que entregaram pedidos de impeachment em suas mãos, e no conjunto, os brasileiros sãos que queriam a saída de Dilma Rousseff do poder, mas com essa traição conseguiu se sentir mais seguro quanto à sua própria saída. Enquanto os “detentores da virtude” berravam debilmente pela sua saída e a mídia cada vez mais apertava o cerco contra sua pessoa em reportagens, Cunha conseguiu fazer algo muito difícil: ele colocou o PT no lugar ideal para que ele não saísse. Se Cunha caísse, Dilma cairia, e se Dilma cair, todo o esquema nacional, mas também internacional, do PT cairia por terra e seria exposto.

Com seu Rei em xeque perante a Torre de Cunha, o PT deu um jeito em seus Peões e no resto das peças nobres. Suas Torres, Cavalos, Bispos e a Rainha, isto é, os políticos, aliados, grandes grupos e a mídia ficaram mais quietos, assim como seus Peões nas universidades. De repente, como se um balde de água extinguisse uma fogueira que pretendia ser um incêndio, restando apenas brasas e poucas fagulhas, a mídia, os políticos, grupos ativistas e os universitários pararam de berrar.

Esse silêncio foi além dos grupos sob um controle (grande ou pequeno) indutivo direto do PT. Bem como indaguei, há semanas, se quando Cunha fizesse um acordo com o PT, seus opositores mudariam em algum ponto a respeito da opinião ou a ânsia em querer tirá-lo do cenário político brasileiro em nome da Justiça, em artigo no qual, aliás, já analisava o problema dos “Fora-Cunha”; pelo visto mudaram de fato, mas não foi Cunha que se rendeu ao esquema petista, o PT se rendeu a Cunha, e todo aquele discurso belo, alto e que fazia várias pessoas pedirem a cassação de Cunha… Sumiu. Um silêncio mórbido e delator se instaurou dentro das mentes, muitas vezes “cult”, à esquerda.

Mas a esquerda não poderia se separar de sua tão antiga e mui estimada tradição: fingir que não estava lá. Quando a realidade bate à porta, o esquerdista fica em silêncio. Vimos tal hábito doentio com a vitória de Dilma, em 2014; os mesmos que defendiam Dilma com toda a força intelectual que possuíam (nunca foi uma boa defesa, afinal) ficaram calados ao verem os pobres mais pobres e os ricos, os mais enriquecidos do país, Amigos do Rei, políticos, banqueiros e empresários aliados do governo que tanto defenderam, ficando cada vez mais abastados. Hoje o sujeito que era pobre ontem, já tem dificuldade de pagar as contas básicas, não pode mais sair de carro ou ir ao Shopping, mas a culpa jamais será dos paladinos do PT; ignorarão tais problemas propositadamente, ou pior: os jogarão no colo dos outros. Nunca será culpa do revolucionário, do anunciador do Mundo Melhor. O caso de Cunha só evidencia, mais uma vez, o verdadeiro descaso que a esquerda em geral tem com a realidade, Verdade e bondade.

Com esse silêncio repentino, dos políticos, da mídia e da militância, mas principalmente dos indivíduos mais independentes, sem laços diretos ou indiretos com o partido governante, todos eles mostraram suas verdadeiras faces, mas acima de tudo precisam ser lembrados disso. É necessário que as pessoas com um maior grau de sanidade e hombridade escancarem o problema que os próprios esquerdistas criaram, para eles próprios – quem sabe assim exista alguma esperança para o futuro da mentalidade política do Brasil. São os silenciosos que demonstram a verdadeira corrupção, que degenera o espírito humano, e não os políticos.

A corrupção não é unicamente, como infelizmente é dito nas escolas, um desvio do bem comum para o bem privado, como ocorre no peculato. Corrupção é o corromper, perverter, adulterar. Pode-se ser corrupto sem roubar um centavo para si mesmo, ou esperar uma retribuição de alguma maneira, pois podemos corromper algo em nome de uma ideologia, de um imaginário, de um grupo, um coletivo. Em nome do que se acredita, do que está dando errado, mas não se quer que dê errado, várias pessoas podem mentir, omitir, enganar, roubar, fugir, induzir e destruir; por um grupo podem-se fazer as mais gritantes baixarias, e ainda assim se sentir bem com isso.

Os silenciosos atuais são os corruptos, os verdadeiros pervertidos dessa nação. Faziam o que faziam em nome da Justiça, do Bem, da coesão, mas abandonaram todas as suas altas bandeiras por causa da ordem de burocratas engravatados, do verdadeiro chefe, que toma das mais caras bebidas enquanto algum idiota-útil se revolta no Facebook na sexta, porém na segunda fica em silêncio, porque não é mais tão útil querer Cunha fora, pois se Cunha cai, todos os cleptocrátas engravatados que ele tanto ama, caem junto – e com a recente prisão de Delcídio, esperem para a maior e mais sepulcral quietude da história da esquerda brasileira. “Cunha? Quem é ele mesmo?” talvez assim falem alguns dos sumidos “#ForaCunha!” daqui a alguns meses.

Hiago Rebello
Graduando em História, Licenciatura, pela Universidade Federal Fluminense, colunista do

Instituto Liberal.


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