quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Carlos Lacerda – 101 anos

Carlos I. S Azambuja

Carlos Frederico Werneck de Lacerda foi o maior brasileiro de seu tempo, seja como administrador, seja como político, conforme escrevi recentemente em outro artigo

Escrever sobre Carlos Frederico Werneck de Lacerda não é uma tarefa fácil. Falar sobre sua vida é um desafio para qualquer pessoa, pois foi o maior brasileiro do seu tempo!

Quem esmiúça, em detalhes, a vida desse grande brasileiro é John W. F. Dulles, no livro “Carlos Lacerda – A Vida de um Lutador”, editado pela Nova Fronteira em 1992. O livro é, praticamente, um diário da política brasileira nos anos 50 e 60.

Se fosse vivo, Carlos Lacerda teria feito, este ano, em 30 de abril, 101 anos e provavelmente não assumiria a postura de mero espectador dos acontecimentos que transformaram o país em um esgoto. Como fez durante toda a sua vida, já teria se sentado à máquina ou ao computador e despejado sua famosa agressividade e seu notável senso crítico que durante décadas mexeram com a sociedade e causaram as mais extremadas reações dos adversários políticos.

Sobre ele, sugiro aos Kamaradas a leitura de “O Caminho da Liberdade”, do próprio Carlos Lacerda. Essa publicação, com 254 páginas e vários anexos, é o discurso, feito por ele, em sua defesa, na Câmara dos Deputados, em 16 de maio de 1957, quando o governo de Juscelino tentou obter permissão da Câmara para entregá-lo à Justiça Militar, por haver divulgado segredos do interesse da Segurança Nacional – segundo a acusação -. Durante 10 horas, Carlos Lacerda fez sua exposição, preparada durante três dias e três noites de trabalho.

Ao final, o governo não conseguiu os 164 votos que precisava.

Lacerda tinha o poder da convulsão e da comoção. Era arrebatador e emocionante e considerava com absoluta certeza que a palavra, quando colocada com precisão, doía mais do que a reação física. Ele fez da língua e da argumentação instrumentos imbatíveis nos debates de que participou.

Foi Vereador, Deputado Federal e Governador do então Estado da Guanabara. Como Governador tomou posse em 5 de dezembro de 1960 depois de uma campanha memorável, realizando comícios em todo o Estado em cima de um caminhão. Era o chamado Caminhão do Povo.

Sua passagem pelo governo estabeleceu um sistema de administração até então desconhecido, a descentralização do Executivo através das Regiões Administrativas.


Sua administração esteve à frente de seu tempo. Criou as Secretarias de Justiça, Turismo, Serviços Sociais e Governo, até então inexistentes. Criou a COPEG (agência estadual para o fomento do desenvolvimento industrial), a COCEA (Companhia Central de Abastecimento), os bairros Cidade de Deus, Vila Aliança, Vila Kennedy e Vila Esperança. A educação hoje tem a sua marca: construiu 231 escolas e 1.185 salas de aula, além de criar a Universidade do Estado da Guanabara – atual UERJ -, o Instituto de Belas Artes, o Instituto Villa-Lobos e a Sala Cecília Meireles. Nos transportes criou a Companhia de Transportes Coletivos (CTC) e construiu os viadutos dos Marinheiros, Engenheiro Noronha, Saint-Hilaire, Tunel Santa Bárbara, abertura do Tunel Rebouças, e a maior de todas as suas obras: o Parque do Flamengo, cujo nome oficial é Parque Brigadeiro Eduardo Gomes.
Erradicou, dentre outras, as favelas do Pasmado (em cima de um viaduto, ao lado do campo do Botafogo), a favela da Catacumba, às margens da lagoa Rodrigo de Freitas e a favela do Esqueleto, onde hoje é a UERJ.

Lacerda também pôs fim à irritante falta d’água ao construir as adutoras do Guandu, Paquetá e Jacques-Acari, sem falar na construção de uma das mais completas redes de esgotos do país.

Ao mesmo tempo ia deixando cada vez mais claras suas divergências com o então presidente Jânio Quadros, especialmente quando da condecoração, por Jânio, de Ernesto Che Guevara, então ministro da Indústria e Comércio de Cuba. No mesmo dia da condecoração ao kamarada Che, Lacerda homenageou Manoel Antonio de Verona, dirigente anticastrista que estava no Brasil buscando apoio para sua Frente Democrática.

Na Câmara dos Deputados, num certo dia, quando fazia um inflamado discurso, como era do feitio, um colega pediu um aparte:

- Vossa Excelência pode falar o quanto quiser, porque o que me entra por um ouvido sai imediatamente pelo outro.

Ao que lhe respondeu Lacerda:

- Impossível, nobre colega, o som não se propaga no vácuo... 


Carlos Ilich Santos Azambuja é Historiador.

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