Fernão Lara
Mesquita
Para a ponta de cima
da pirâmide a nossa desordem regulatória, o pandemônio tributário e a ratoeira
trabalhista foram, aos poucos, se transformando em sólidas barreiras de “proteção
do know-how
nacional” contra concorrentes incômodos. Os nossos “grandes
tycoons” dos setores mais competitivos da economia globalizada com
costas quentes no BNDES – que são o pouco que sobrevive da indústria nacional –
passaram a adorar esse nosso labirinto. Esses “excepcionalismos”
corporativo-burocráticos que matam as empresas, os negócios e os empregos da
massa ignara dos “sem-bancada no Congresso”
aqui da planície, condenados a competir de peito aberto com as chinas da vida,
transformam os mega-empresários do nosso “capitalismo de compadrio”
nos “intérpretes” que qualquer estrangeiro
treinado apenas na competência, na lógica do mercado e no bom senso precisa
obrigatoriamente ter para poder operar direta ou indiretamente no ou com este
Brasil onde não valem as leis universais.
Em entrevista
gostando da Dilma para a Folha
de S. Paulo de 6
de julho passado, Rubens Ometto, da Cosan, dizia isso com todas as letras:
“Somos
brasileiros, fazemos a diferença porque sabemos como proceder, lutamos pelos
nossos direitos politica e economicamente (…) para defender minhas empresas no
Executivo e no Legislativo (sic). Claro que não se pode fazer certas
coisas que acontecem por ai (especialmente
nesses tempos de Lava-Jato) mas
eles (os
estrangeiros) precisam
de alguem que more no Brasil“…
Logo abaixo dessa
pontinha da pirâmide comem soltos os cínicos da especulação, para quem para
cima ou para baixo pouco importa, o que interessa é o tamanho das oscilações, e
se empanturram os banqueiros que recolhem os mortos e feridos e, a peso de
ouro, costuram novos frankensteins para o mundo dos mortos-vivos do
empreendedorismo brasileiro enquanto nos sugam pela interposta pessoa do estado
estroina a quem não interessa o tamanho do juro a ser pago, tudo que é
necessário é que o dinheiro não pare de fluir.
Já para a grande
massa descrente dos da base da pirâmide, aceitar a velha e surrada isca
corporativista de sempre quando a conta chega e a miséria aperta parece, ao fim
de cinco séculos sem mudanças, a única maneira realista de salvar-se quem puder
salvar-se da parte que for possível do sacrifício a ser imposto aos demais,
ainda que a custa de ficar devendo à máfia.
Entre o suborno do “direito
especial” a não pagar inteira a sua parte da conta oferecido pelo
político de plantão e a sangria sistemática dos empregadores cabalada pelos
advogados “trabalhóstas” que dividem o produto do roubo
para assaltar quem foi louco bastante para oferecer empregos no país que
Getúlio Vargas condenou à danação eterna com seu apelo sibilino – “Seja
canalha que a Justiça do Trabalho garante” – muito pouca coisa da
moral e do orgulho nacionais restam em pé.
É de cima desses
escombros que Lula apela pelo pior em cada um de nós, com o seu deletério: “Eu
sou; mas quem não é”?
São estes – fora a multidão dos dispensados da corrida do
merecimento que o PT multiplicou em metástese em cada célula do estado,
habitantes daquele mundo encantado do Planalto Central onde as marés são
eternamente montantes, os salários sobem 78% em plena crise e os empregos nunca
desaparecem – os interessados em que nada mude nesse brasilzão de sempre.
VESPEIRO
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