quarta-feira, 8 de julho de 2015

A Petrobras e a agenda do País

Hélio Duque

Nos últimos 12 anos, os governos Lula/Dilma seguiram com disciplina a filosofia do marqueteiro João Santana: não lidar com conceitos como verdade, mas com a percepção do cidadão. Nos primeiros 4 anos, colheu os frutos das árvores plantadas pelo Plano Real, ou seja, uma economia sustentável proporcionando às famílias avanço social garantido pela estabilização econômica.

No segundo mandato de Lula e no primeiro de Dilma, ao abandonarem os fundamentos que alicerçavam o Plano Real e não promoverem as reformas que modernizariam a economia brasileira, era questão de tempo a debacle. Colheram a realidade econômica, social e política que estamos vivendo. Jogaram os brasileiros em uma tempestade violenta onde a crise econômica e social está vitimando os trabalhadores, a classe média e importantes setores produtivos.

Indiscutivelmente a presidente da República, Dilma Rousseff, vive estágio de dissonância cognitiva. Nome científico onde coerência e lógica são vítimas indefesas. O ex-presidente Lula da Silva, apostando na amnésia, falta de memória do povo brasileiro, assume ares de oposição. Ignorando que foi no seu governo que ocorreu o maior assalto ao dinheiro público na história republicana. Semana passada, em Brasília, durante reunião com dirigentes do PMDB, proclamou que a apuração da roubalheira contamina a política e a economia, afirmando: “A Lava Jato não pode ser a agenda do País”. Resta perguntar: por que a operação conduzida pelo Ministério Público Federal, Polícia Federal, Receita Federal e a competência jurídica de Sergio Moro, vem pautando o Brasil?

A Petrobrás respondeu, ao oficializar o seu “Plano de Negócios e Gestão: 2015-2019”, por que a Lava Jato é a agenda do País. Escancarando com realismo, o crime de lesa pátria que vitimou a empresa. Reduzindo de US$ 206 bilhões para US$ 130 bilhões os seus investimentos ao longo daqueles anos. Igualmente o seu tamanho com a venda nos próximos quatro anos de partes do seu ativo no total de US$ 58 bilhões. Ante a perigosa situação de registrar dívida bruta de R$ 380 bilhões (em dólares, 110 bilhões).

Os números atestam que gestões temerárias levaram a estágio de quase enfarte uma empresa sólida e historicamente lucrativa. A nomeação de militantes e sindicalistas para a sua direção levou a empresa ao estágio de anomia. Caracterizada pela desintegração das normas que regem a conduta empresarial. Estrangularam o seu caixa e levaram ao endividamento recorde para o tamanho da sua estrutura. Somente o desalinhamento dos preços de combustíveis, gerou prejuízo estimado em R$ 65 bilhões. A Petrobrás era usada como “biombo da inflação”, importando derivados a preços altos e vendendo no mercado interno a preços baixos.

Hoje o valor de mercado da empresa é de US$ 56 bilhões. Há alguns anos, o valor era muito superior a US$ 200 bilhões. Recolocar a Petrobrás no caminho andado por 50 anos (dos seus 62 anos que fará em 3 de outubro), recuperando a credibilidade e sendo a grande alavanca do desenvolvimento, é o desafio que precisa ser enfrentado.

Priorizando a sua atividade fundamental, a exploração e a produção de petróleo. No Plano de Negócios está definido que a área receberá 83% dos investimentos, correspondente a US$ 108 bilhões, significando US$ 27 bilhões/ano. Paralelamente, a venda de ativos objetiva apurar o total de US$ 58 bilhões,  sendo US$ 15 bilhões em 2015/16 e US$ 43 bilhões em 2017/18.

O dinheiro viria certamente da venda de algumas participações minoritárias no pré-sal, além de ativos nos EUA, postos de combustíveis na América do Sul, usinas térmicas, distribuidoras de gás e abertura de capital da subsidiária BR Distribuidora.

A “Operação Lava Jato” foi responsável pelo escancaramento da corrupção e “roubança” que vitimava a empresa. O “propinoduto”, roubo institucionalizado pelos seus diretores delinquentes e empresários poderosos ficou comprovado. Além dos projetos de refinarias sem viabilidade econômica e absurda coleção de investimentos temerários, tipos Refinaria de Pasadena ou a Refinaria de Okinawa (Japão), com integral aprovação do governo.

Na época Dilma Rousseff era responsável pelo Ministério das Minas e Energia e posteriormente passou para a Casa Civil, mas sempre ocupando a presidência do Conselho de Administração da Petrobrás. São os dois grandes responsáveis pelos momentos dramáticos que a empresa vive hoje. Não é, portanto, a Lava Jato quem pauta a agenda do País, mas a incompetência aliada à corrupção que penetrou não só estatal, mas na administração pública brasileira pautando a vida nacional.

É o retrato em preto e branco da demagogia do “nunca antes na história desse País”.


Helio Duque é doutor em Ciências, área econômica, pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Foi Deputado Federal (1978-1991). É autor de vários livros sobre a economia brasileira.


Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net




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