terça-feira, 17 de julho de 2018

Iniqüidade é Multidimensional

Hélio Duque

Um novo conceito para medir a injustiça social no mundo foi criado e chama-se pobreza multidimensional.  Analisa as leis econômicas e trabalhistas, a concentração de renda nos países e as ações governamentais inibidoras do progresso social. No Brasil, o IBGE adotou nas suas pesquisas setoriais o conceito vigente no mundo.

A pobreza multidimensional  analisa não somente a renda individual da população. Engloba também a educação, saúde, habitação, o saneamento, segurança e setores afins. O dado apurado pela respeitável entidade que cuida da realidade socioeconômica brasileira aponta retrato do Brasil real. Constatou 60% da população vítima da pobreza multidimensional.

Confirmam que estamos construindo uma civilização que marginaliza a maioria da população. Agravada com a explosão urbana, que transferiu dois terços da população rural para as cidades. Em 1970, ano da Copa do Mundo, o slogan da música era “90 milhões em ação”. Cinco décadas depois, a população ultrapassa os 200 milhões. As principais metrópoles e cidades médias explodiram populacionalmente. Em todas elas, nas suas periferias, formou-se um “anel de saturno” de pobreza.

A grande reforma para enfrentar a nova realidade, foi semântica: “favela” passou a ser chamada de “comunidade”. A manipulação da opinião publica pela publicidade oficial aliada à mentira política propagandeou que já não havia pobres no país. O Brasil seria uma nação de classe média. O objetivo era encobrir os problemas sociais, agravados pela recessão econômica nos anos de 2014, 2015 e 2016.

Felizmente o engodo foi desmascarado, demonstrando que a contrapartida do Estado em investimentos na infraestrutura, ao longo de diferentes governos, foi deplorável. Refletindo diretamente na educação, na saúde, na habitação, nos transportes e na segurança nessas chamadas “comunidades”. A marginalização pelo desemprego, em função da baixa formação, com baixíssima esperança no futuro, levou as novas gerações a buscar caminhos violentos.

A proliferação dos assaltos nos centros urbanos e a penetração do comércio das drogas levou a atual realidade. Viver nas grandes cidades brasileiras passou a ser tormento pelo  medo que invade o cotidiano de grande parcela da sociedade. No Rio, o clima é de guerra declarada pela marginalidade.

A desigualdade, a pobreza e a pobreza extrema medida pelo IBGE, gerou a sociedade desigual. É indiscutível o acumpliciamento ideológico da direita e da esquerda nesse pseudo-capitalismo. Falar em igualdade de oportunidades no Brasil é alimentar a mentira de um Estado que foi incapaz de atender a elementares princípios de uma sociedade harmônica, onde as diferenças socioeconômicas não fossem tão discrepantes e injustas.

O desenvolvimento excludente vem sendo predominante na vida nacional. Ante essa realidade cruel, existe outro Brasil. Somos a 8ª economia do mundo, estamos entre os maiores em extensão territorial, classificado entre os “países-monstros”. Potencialidades de riqueza nessa extensão continental são inegáveis. Resta indagar: por que somos uma sociedade tão desigual? Não se queira atribuir isso ao Brasil ser vítima de uma conspiração mundial.

Ao contrário, os grandes problemas que invade a vida da maioria, são autoinfligidos pelos próprios brasileiros. Por exemplo, no Produto Interno Bruto “per capita” (mesmo sendo a 8ª economia mundial) 40 nações estão à nossa frente. Na formação educacional, em linguagem, matemática e ciências, em universo de 70 países, estamos entre os dez últimos comprovando as deficiências no aprendizado.

Em outubro, elegeremos novos governantes. A pergunta aos presidenciáveis é como pretendem enfrentar esses desafios do presente e do futuro? Terão coragem de fazer o enfrentamento em defesa da sociedade? Lutarão para mudar essa estrutura viciada dominante no Estado brasileiro que se mostra corrompido e ineficiente? A resposta está com os eleitores brasileiros.

catve.com

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