sexta-feira, 16 de março de 2018

Novas tecnologias fazem trabalhadores abandonar o barco no McDonald’s

The Washington Post

Os trabalhadores estão preferindo desistir ao invés de lidar com as novas tecnologias e opções de menu nos Estados Unidos. O resultado: os consumidores esperarão mais

Para Dudley Dickerson, o aplicativo de pedido foi a última gota. O McDonald’s vem se atualizando com novas tecnologias, um menu renovado, novos processos de entrega e pontos de retirada. Mas o projeto “Experiência do Futuro” tem também mais empregados sobrecarregados com algumas tarefas – em muitos casos, dizem alguns deles, sem aumento salarial ou recrutamento adequado. Então, Dickerson, de 23 anos, entregou sua espátula pela última vez.

“Eles acrescentaram muitas coisas complicadas que tornam [o dia a dia] mais difícil para os trabalhadores”, diz Dickerson. O relato diz respeito a unidades da rede nos Estados Unidos, mas se sabe que tudo o que é testado por lá, aos poucos, chega aos franqueados e outras unidades da marca no mundo.

Muitos trabalhadores do ramo de fast-food passam de um emprego a outro. Mas com o desemprego tão baixo nos EUA, o rotatividade está se tornando um problema. Os trabalhadores estão preferindo desistir ao invés de lidar com as novas tecnologias e opções de menu. O resultado: os consumidores esperarão mais. 

O tempo de espera no drive-trough da rede aumento para 239 segundos no ano passado, mais de 30 segundos mais lento do que em 2016, segundo a revista QSR. E está também mais lento que os concorrentes Burguer King, Wendy’s e Taco Bell.

A rotatividade nos restaurantes de fast-food como um todo pulou para 150%, o que significa que uma loja com 20 trabalhadores passa por uma rodada de 30 em um período de um ano. Esse número é o mais alto desde o início desse acompanhamento pela People Report, em 1995.
“Os restaurantes de serviço rápido estão tendo um pouco de dificuldade em ofertar empregos e encontrar trabalhadores. É o ritmo do trabalho, da tecnologia e a menor faixa salarial [os problemas]”, afirma o diretor-executivo de operações da People Report, Michael Harms. 

O próprio McDonald’s e seus franqueados dizem não ter sentido um aumento da rotatividade de seus funcionários ao longo do último ano, e que não há uma correlação entre novas iniciativas e rotatividade, de acordo com um email enviado pela porta-voz Terri Hickey.

“Juntamente com nossos proprietários-operadores, estamos investindo em todos os treinamentos necessários para garantir a implementação bem-sucedida de qualquer mudança em nossos restaurantes”, escreveu ela. “Ao mesmo tempo em que o ‘Experiência do Futuro’ moderniza a experiência de nossos restaurantes para os consumidores, há também um foco na melhoria do ambiente de trabalho para os funcionários da rede”.

Steve Easterbrook, CEO do McDonald’s, vem promovendo iniciativas que ajudaram a aumentar em 3,6% algumas vendas no ano passado as quais a empresa monitora. “A bola está realmente na quadra dos trabalhadores, não dos empregadores”, avalia Harms. 

Em 2017, o McDonald’s afirma ter empregado 235 mil pessoas, incluindo funcionários da área corporativa e dos restaurantes. Cada uma dessas pessoas gerou US$ 87 mil em receita, em comparação com os US$ 65 mil do ano anterior. Embora este dado pudesse ser visto como um sinal de eficiência, também pode ser visto como uma sobrecarga sobre um número inadequado de empregados. 

No condado de Broward, Flórida, Westley Williams diz que está mudando do McDonald’s para o concorrente Joint Checkers em razão dos pedidos por meio de aplicativos móveis, itens novos e seis novos quiosques de autoatendimento.

“É mais estressante agora”, diz Williams, de 42 anos, frisando também que ele não conseguiu qualquer aumento por trabalhar mais. “Quando nos atrapalhamos um pouco porque ainda estamos nos acostumando com alguma coisa nova, nós levamos bronca.”

Gazeta do Povo

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