segunda-feira, 15 de junho de 2015

IMPRENSA BOICOTA COLLOR E OCULTA GRAVES ACUSAÇÕES CONTRA JANOT



Carlos Newton

Aconteceu nesta terça-feira, 9 de junho, um fato intrigante na mídia brasileira. Era um dia morno, sem notícias bombásticas, em que o governo tentava criar “agenda positiva” relançando velhos projetos anunciados há anos no setor dos transportes, mas que jamais saíram do papel.

A principal notícia do dia era o fato de Lula ter recebido R$ 4,5 milhões de uma empreiteira envolvida na Lava Jato, a Camargo Corrêa, mas esta ligação do ex-presidente com empreiteiras e grandes empresários realmente nem significa novidade. É fato público e notório.

Eis que de repente, no início da tarde, o senador Fernando Collor (PTB-AL) sobe à tribuna e faz um discurso demolidor contra o procurador-geral da República Rodrigo Janot, acusando-o de acobertar os crimes cometidos pelo irmão dele, Rogério Janot Monteiro de Barros, estelionatário internacional procurado em todo o mundo pela Interpol.

Depois, desceu a detalhes, dizendo que o procurador-geral usou uma
casa em Angra dos Reis, no Condomínio Praia do Engenho, Km 110, da Rodovia Rio-Santos, para esconder outro estelionatário, sócio do irmão dele, acrescentando que Janot alugava o imóvel a ele sem contrato, para sonegar Imposto de Renda.

FESTIVAL DE ACUSAÇÕES
Foi um festival de denúncias. Collor disse que o irmão Rogério Janot fez fortuna por um período no Brasil vendendo equipamentos de informática com “notas frias” para uma grande empreiteira mineira (Mendes Júnior) que está envolvida na Operação Lava-Jato, com dirigentes já presos.


Depois de acusar o procurador-geral até de dar uma “carteirada” para reduzir o valor de uma conta hospitalar do irmão Rogério, Collor disse também que Janot há anos presta serviços ilegais para o escritório do ex-procurador-geral Aristides Junqueira.

“É verdade que, mesmo impedido de advogar, o senhor – claro, sem nada assinar – obtém lucros auxiliando a banca do Dr. Aristides Junqueira? Sr. Janot, isto é moralmente aceitável? É legítimo? É ético, Sr. Janot? Não constitui crime um procurador-geral da República advogar paralelamente?”, perguntou Collor, indagando também se Janot teria coragem de ser acareado publicamente com algumas testemunhas desses fatos.

UM SILÊNCIO MORTAL
O que se estranha é o silêncio mortal que cercou o episódio. Um discurso da tribuna do Senado, com tamanhas acusações, num dia morno, deveria ser destaque em todos os noticiários, mas aconteceu exatamente o contrário. O único blog a publicar foi a Tribunal da Internet. Nos grandes portais de notícias (Folha, Estadão, Correio Braziliense, Agência Brasil, O Globo, Valor, O Tempo), nenhuma menção ao discurso.

Às 22h20 de terça-feira, dei uma geral na internet. Além da nossa matéria na Tribuna, só encontrei a notícia, discretíssima, na agência Senado, sob o título singelo de “Fernando Collor resgata fatos da vida do irmão de Janot”. Além disso, apenas uma reprodução do texto do Senado no site do jornal de Luzilândia, uma cidade do Piauí, e a transcrição do discurso no site Conversa Afiada, que deve ter recebido cópia enviada pela assessoria do senador. Quarta-feira, dei nova busca. Foi o mesmo resultado. apenas acrescido de uma matéria no 247, a grande mídia sepultou o assunto.

ISSO NÃO É JORNALISMO
Mas por que este boicote a uma matéria tão importante? A única explicação é o fato de que os jornalistas desprezam tanto Collor que não aceitam tomar conhecimento de denúncias feitas por ele.
Mas isso não é jornalismo. Não sei em que faculdade conquistaram o diploma, mas, sinceramente, não aprenderam o que é jornalismo. Collor fez muita loucura, perdeu a presidência, ficou oito anos afastado, sua dignidade rolou ladeira abaixo etc. Tudo isso é sabido. Mas uma coisa nada tem a ver com a outra.

Para o jornalista, não interessa se Collor está revidando, por ter sido incluído no processo por Janor. Isso faz parte da matéria, mas o jornalista não se pode esquecer que, ao fazer esse tipo de denúncia, Collor está prestando um serviço à nação, mostrando que Janot não pode ser reconduzido à Procuradoria-Geral. E isso tem muita importância, a imprensa não pode se reservar o direito de esconder tais fatos. O resto é folclore, não é jornalismo.


Carlos Newton é editor da Tribuna da Internet.

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