quarta-feira, 20 de maio de 2015

Brasil e China confirmam acordos de mais de US$ 53 bi e ajuda à Petrobras

“O Estado”

A presidente Dilma Rousseff classificou a reunião que teve com Li Keqiang, primeiro-ministro da China, como importante para as relações entre os dois países. A fala dela ocorreu na saída do evento onde foram assinados 35 atos e após a ida do primeiro-ministro para o Palácio do Itamaraty. A presidente disse ainda que aceitou um convite do presidente chinês Xi Jinping e que programa uma nova visita ao país asiático em 2016. 

"Tivemos nesta manhã uma reunião produtiva", disse, destacando um plano conjunto que prevê ações entre 2015 e 2021. "Esse plano inaugura uma etapa superior do nosso relacionamento", disse.  

Dilma disse que o Brasil quer que empresários chineses participem de investimentos em refinarias e estaleiros por aqui. Ao lembrar dos acordos assinados entre a Petrobrás e empresas chinesas, Dilma destacou que a parceria "reflete não só a confiança na Petrobrás", mas também amplia a "parceria que temos com as empresas chinesas no Campo de Libra".

Dois acordos foram firmados, totalizando US$ 7 bilhões. O presidente da Petrobrás, Aldemir Bendine, e o presidente do Cexim, Hu Xiaolian, assinaram acordo-quadro de cooperação para financiamento de projetos da Petrobrás no valor de US$ 2 bilhões. Bendine também assinou acordo com o presidente do Conselho do Banco de Desenvolvimento da China (CDB), Hu Huaibang, que prevê financiamento de projetos da Petrobrás no valor de US$ 5 bilhões.

Infraestrutura. A presidente defendeu que essas reuniões trouxeram características novas, com ênfase em infraestrutura. Ela destacou os investimentos na ferrovia transcontinental como uma das mais importantes. "Ela é uma ferrovia estratégica para o Brasil, liga o Atlântico ao Pacífico", disse a presidente.  

O projeto pretende ligar áreas brasileiras mais rapidamente ao Peru. "Brasil, Peru e China iniciam juntos estudos de viabilidade para conexão ferroviária transcontinental, que vai cruzar o nosso País sentido leste-oeste", disse. "A ferrovia vai cortar o continente sul-americano, ligando o Oceano Atlântico e o Pacífico. E convidamos empresas chinesas a participar dessa grande obra", completou, destacando que a ferrovia atravessará os Andes até chegar ao Peru. "É um novo caminho para a Ásia, que vai reduzir a distância e os custos", acrescentou. 

Dilma também destacou o acordo entre a Caixa Econômica Federal e o Banco Industrial e Comercial da China (ICBC), que deve alcançar US$ 50 bilhões. "Tem também o fundo feito entre o governo chinês com o governo brasileiro. A parte chinesa oferece colocar US$ 30 bilhões. Nós vamos colocar outra quantia que estamos avaliando ainda o quanto", explicou a presidente. Ela ainda disse que eles têm interesses em estaleiros, refinarias e na licitação do remanescente da faixa de 4G para celular.

Entre os diversos acordos firmados entre os dois países, Dilma também destacou os firmados na área de comércio. "Teremos a oportunidade dialogar com o empresariado dos dois países sobre o importante papel que exercem nesse processo", afirmou. Dilma disse que é preciso que o comércio entre os dois países seja cada vez mais intenso e aberto. Segundo ela, é preciso aperfeiçoar as relações econômicas, "buscando maior harmonia, respeito e benefícios mútuos". Segundo Dilma, os dois países também vão utilizar o mecanismo de pagamento em moedas locais, com R$ 60 bilhões por parte do Brasil e 190 bilhões de yuans pelo lado dos chineses. Isso é uma forma de diminuir a dependência do dólar e, segundo a presidente, "contribui para mitigar oscilações monetárias no comércio internacional".

Veja abaixo alguns acordos que foram firmados ou podem ser fechados entre os dois países, segundo fontes do governo.
Energia
Deve ser assinado um acordo de conclusão de transferência de ações da EDPR (Brasil) para o Grupo de Três Gargantas sobre projeto de energia eólica de 321MW. De acordo com documento obtido com exclusividade pela Agência Estado, o acordo inclui 11 projetos de parques eólicos, concluídos ou em construção, localizados nas regiões Sudeste e Nordeste do Brasil. Além disso, o grupo China Three Gorges, dono da maior hidrelétrica do mundo, reafirmou seu interesse em construir a hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, usina estimada em mais de R$ 30 bilhões que o governo quer erguer na Amazônia. 

Painéis
O Brasil deve construir em parceria com a China uma fábrica de painéis solares fotovoltaicos. O acordo será fechado entre a Agência Brasileira de Promoção das Exportações e Investimentos (Apex) e a BYD Energy do Brasil. A cooperação prevê investimentos de R$ 150 milhões para a construção da fábrica. 

Satélite
O Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil e a Administração Nacional de Ciência, Tecnologia e Indústria para Defesa Nacional da China devem assinar um protocolo complementar sobre a pesquisa e produção conjunta do satélite de recursos terrestres China-Brazil Earth Resources Satellite (CBERS) 04A. 

Bancos
A Caixa Econômica Federal e o Industrial and Commercial Bank of China (ICBC) devem assinar um memorando de entendimento para a criação de oportunidades de negócios entre o Brasil e o país asiático. O acordo prevê "implementação conjunta de projetos que ofereçam suporte - por meio de crédito, arranjos de financiamento e fundos de investimento - para a promoção dos investimentos e a criação de oportunidades de negócios entre os dois países". Ainda segundo o documento, "os projetos serão inseridos no programa 'Green Finance Program for Latin America and Caribbean Regions', de iniciativa do ICBC e que visa a financiar projetos sustentáveis de infraestrutura."   

Navios
A Vale informou em um comunicado que concluiu a venda de quatro navios VLOCs com capacidade de 400 mil toneladas para a China Ocean Shipping Company (Cosco), o maior armador e transportador de granéis sólidos da China e um dos maiores operadores de granéis sólidos do mundo. As embarcações são atualmente operadas pela Vale. Segundo a mineradora, a transação está relacionada com o acordo assinado com a Cosco em 12 de setembro de 2014 e totaliza US$ 445 milhões. O montante será recebido pela Vale mediante a entrega dos navios para a Cosco, que está prevista para acontecer em junho de 2015. 

Telecomunicações
O ministro da Defesa, Jaques Wagner, e o diretor da Administração Nacional de Ciência, Tecnologia e Indústria para Defesa Nacional da China, Xu Dazhe, assinaram há pouco um "memorando de entendimento sobre sensoriamento remoto, telecomunicações e tecnologia da informação".  A celebração do acordo faz parte de 35 atos assinados entre China e Brasil, em cerimônia no Palácio do Planalto da qual participam a presidente Dilma Rousseff e o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, em visita oficial ao País. 

Bolsa
A BM&FBovespa deve fechar um acordo de cooperação com o Banco da China. O acordo prevê expansão da colaboração nas áreas de parcerias preferenciais e de acesso ao mercado brasileiro de capitais. A previsão era que o acordo fosse assinado pelo diretor-executivo de Produtos e Clientes da bolsa, Eduardo Guardia, e o presidente do Banco da China, Chen Seqing.  A parceria era dada como negociada pelas autoridades brasileiras ontem à noite, segundo o documento obtido pelo Broadcast, mas ainda não havia sido oficializada. O acordo faz parte de uma série de atos que serão assinados durante a visita ao Brasil de Li Keqiang, primeiro-ministro da China, e mais 150 empresários. (Colaboraram André Borges, Álvaro Campos, Beth Moreira, Carla Araújo, Victor Martins, Rafael Moraes Moura, Ricardo Della Coletta)


“Estadão”  -  19.05.15

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